É importante considerar o pensamento do teórico francês Bernard Miège (foto), no que refere-se à relação entre comunicação e tecnologia, sobretudo no século XXI, quando vê a formação de uma sociedade midiatizada, ambientada num universo digital, que como Muniz Sodré esclarece trata-se de uma nova vivência social, proporcionada pelos avanços tecnológicos. As chamadas Tics (Tecnologias digitais de Informação e Comunicação) consolidam e reforçam este aspecto social, sob aspecto de produção, consumo e interrelacionamento entre os indivíduos. Com o incremento das Tics, a própria designação da sociedade da informação ficou mais ampla, abarcando características da modernidade. E para comprrender a visão de Miège sobre esta nova sociedade no campo da comunicação, é preciso considerar: a informacionalização; a promoção das tecnologias e das redes como fator dominante ao conteúdo; a modificação e a expansão dos sistemas midiáticos; e o controle transnacional do fluxo de informação e comunicação.
Estes pontos foram citados na entrevista que Miège concedeu a revista Matrizes, da Usp. O autor mostra que a comunicação moderna não engloba apenas a comunicação pessoal, mas observa o que ele conceituou como “comunicação/informação”, a partir da observação de uma sociedade midiatizada iniciada em meados do século passado. O conceito de comunicação/informação está associada a uma articulação entre os dois, que supera a visão ideológica ou de manipulação da comunicação, mas vê também que a informação é meio de interação entre os atores sociais. As Tics reforçam esta relação, impregnando-se na sociedade e no avanço ao longo do tempo. É o que Miége trata de "dupla mediação", em que a mediação é ao mesmo tempo técnica e, ao mesmo tempo, social. (p. 46 do livro A Sociedade tecida pela comunicação).
A princípio tenho percebido uma relação de visão também técnica da comunicação que me remete à Shannon e Weaver, na primeira metade do século XX e a Teoria da Informação, que observou uma teia comunicacional iniciada no emissor até o receptor, observando a produção sob um canal e distorções como efeitos de ruído. Nota-se uma relação com as novas Tics, visto que como a Teoria da Informação destaca relação com os campos sociais a partir das técnicas físicas de transmissão de dados, vê-se atualmente algo bem mais maturado, onde as técnicas estão inseridas como extensão desta sociedade midiatizada.
Miège deixa isso bem evidente ao fazer uma comparação entre a atual comunicação midiatizada e a mediação cultural proporcionada pela mídia. Esclarece que o “fenômeno da mediação existe nas sociedades há muito tempo nos âmbitos cultural, social, político e jurídico” (p.3), e que, portanto, a comunicação/informação refere-se a midiatização.
“Miège propõe o termo «comunicação midiatizada» para introduzir o papel das TICs nos processos de comunicação, não como um elemento redutor de oposição entre as mídias de massa (consideradas bastante diretivas em seu discurso e unidirecionais) e as mídias digitais (onde as TICs possibilitam a emergência da self media). A comunicação midiatizada é muito mais ampla e complexa, configurando novos sistemas de comunicação nos quais os principais atores são não apenas os grandes conglomerados comunicacionais, os construtores materiais e o Estado, mas também as diferentes categorias de usuários considerados como atores estratégicos desse novo processo”
A expansão técnica, de equipamentos neste processo de midiatização, leva a novas práticas sociais. A produção de conteúdo deixa de ser uma atribuição tão somente dos grandes conglomerados de mídia, por serem detentores da tecnologia antes inacessível ao público em geral. As Tics possibilitaram que mais indivíduos pudessem produzir conteúdo e de serem vistos. Importante citar também que as técnicas que tornaram possíveis a produção de conteúdo também oferecem uma gama de possibilitade de aquisição de informação. E nunca houve tanto acesso à informação na ambiência digital de uma sociedade midiatizada, que supera a simples contemplação da realidade mostrada pelos meios de comunicação e passa a inserir-se na representação com participação direta, como esclarece Sodré.
Miège faz um comparativo da rede digital na esfera pública e privada. A mesma rede que serve a todos, na sociedade midiatizada, é instrumento de lazer, de trabalho e de espaço público. “É isso que seduz nas TICs. É que faz com que pessoas sem formação técnica, como as crianças, a dominem. Somos autodidatas no uso das ferramentas da comunicação”, diz o autor. As Tics alteraram também a visão unidirecional da mídia do passado. TVs, rádios e imprensa se modificam para atender a uma sociedade conectada e onde estas conexões tendem a associar à mobilidade.
Esta sociedade atreladas à tecnologia da informação e da comunicação caracteriza-se também por um processo chamado pelo autor de “enraizamento”, diferente dos conceitos de “inserção social” ou “inclusão social”, que torna-se mais complexo e além do uso. Sua teoria fundamenta-se em sete processos, a saber: a informacionalização, a mediatizacao da comunicação, a ampliação do campo midiático, a mercantilização das atividades comunicacionais, a generalização das relações públicas, a diferenciação das práticas e a circulação em fluxos e transnacionalização das atividades.
Nenhum comentário:
Postar um comentário