Os efeitos dos meios de comunicação de massa têm mostrado-se como uma preocupação da escola funcionalista. Tal preocupação serviu para questionamentos de pesquisadores quanto à relação dos meios com a sociedade, seu poder de influência, sua ação junto à audiência e repercussão. Os funcionalistas buscavam a dimensão destes efeitos, na intenção de responder a questionamentos se a violência pregada pela mídia influenciava a sociedade a ser mais violenta, se determinava o gosto do público ou suas preferências políticas, como enuncia Klapper (1987, p.163).
Na leitura dos textos de Merton, Lazarsfeld, Klapper e Noelle-Neumann percebe-se visões que parecem destoantes, mas se assemelham quanto à evolução das pesquisas em comunicação, sobretudo sobre os efeitos dos meios. Hipóteses acerca de sua influência foram válidas durante tempos, como por exemplo, a de que os meios de comunicação atuam tão somente como mero reforço da opinião pública, ou a chamada Teoria dos Efeitos Limitados, que começou a ser contestada a partir dos anos 60. A Tese dos Efeitos Mínimos foi bastante questionada, como assinalada por Neumann: “A maioria dos investigadores considera que os meios de comunicação têm um efeito decisivo na concepção que as pessoas formam da realidade” (NOELLE-NEUMANN, 2002, p. 151).
O texto de Neumann aponta para uma peculiaridade acerca das pesquisas sobre os efeitos, que percebia como “repleta de problemas”. Que os efeitos dos meios de comunicação necessitariam de uma apuração mais rigorosa, técnicas de análises que possam aferir a precisão destes efeitos junto à audiência. Uma tarefa considerada complexa, quando “tantos acreditam que nunca será possível estudar os efeitos dos meios de comunicação de massa” (p.152).
Neumann observou que das vertentes dos estudos sobre os efeitos, um consenso foi estabelecido baseado na hipótese de que a influência dos meios não é direta e pessoal, mas observa-se o contexto do repector e seu ambiente social. O que faz uma associação pertinente com os Estudos Culturais. Partindo para os atores sociais, pode-se admitir que, deixa-se os espaços restritos da mídia para entrar no campo vasto das mediações e a entender todo o processo de recepção ante a diferentes receptores e que tais receptores comportam-se de forma diferente ante a informação veiculada, ante ao discurso, ante à produção simbólica da mídia. Inclusive, grupos expõem reação de resistência a esta produção simbólica, não compactuando com sua essência. Outros aceitam em parte, descartando aquilo que não convém; outros, simplesmente aceitam o discurso em sua totalidade, reproduzindo-o em seguida. Neste caso, os Estudos Culturais surgem como desdobramento da pesquisa dos efeitos dos meios.
Os estudos funcionalistas também sofreram influência dos meios, o que levou Lazarsfeld a abandonar os estudos da comunicação no Office of Radio Research (final dos anos 60), e gerou controvérsias com o setor empresarial que aderia à hipóteses científicas que lhe conviessem a fim de não sofrer pressão política. O conflito ciência-jornalismo está diretamente atrelado, como sinaliza Neumann, ao problema da “legitimação”. Enquanto a pressão dos meios empresariais (chamado no texto de “jornalistas”) seguia a linha dos efeitos limitados (na intenção de mostrar que o poder da mídia não era tão grande assim), as pesquisas mais recentes dão conta de seu caráter de longo prazo, ou “longitudional”, e uma ação potencialmente acintosa junto a públicos extensos (como citado por Lazarsfeld e Merton), contrariando o efeito hipodérmico das massas.
A influência dos meios na sociedade, para Lazarsfeld (foto ao lado, de 1953), tem relação com a evolução social, movimentos reformistas, que possibilitaram aos indívíduos garantir mais tempo ao lazer e às questões pessoais. Porém, os indivíduos não recorreram às produções culturais de qualidade ofertada na época. Recorreram ao que estava à mão, nos meios de comunicação, como a TV e rádio.
Em novas pesquisas sobre os efeitos, Lazarsfeld afirma: “A mera presença desses meios não afeta a sociedade de modo tão profundo como em geral se supõe” (LAZARSFELD E MERTON, 1987, p. 235). Mesmo com os estudos acerca da mídia, legitimação, controle, propriedade deste meios, o autor destaca as mais variadas formas de representações sociais que recebem o conteúdo dos meios e “que poderiam torna-se o objeto de uma pesquisa sistemática”.
O corrida pela compreensão da ação dos meios de comunicação nos estudos funcionalistas, fez-me observar sobre os cuidados com a investigação, influências externas que possam pressionar a pesquisa e um estudo mais aprofundado sobre os efeitos midiáticos ante à diversidade das matrizes culturais. O percurso empírico dos funcionalistas, que ora pareceu-me confusa, mostrou-se articulado, sobretudo a exemplo do texto de Klapper sobre os resultados definitivos da pesquisa. Ao notar as “generalizações”, deparou-se com “uma pletora de descobertas relevantes, mas não concludentes e, às vezes, aparentemente contraditórias” (KLAPPER, 1987, p.163).
A exemplo da pesquisa funcionalista, é preciso admitir que as pesquisas não são definitivas, nem totalmente prontas, que é preciso observar aspectos de investigações anteriores e levantar questões para novos levantamentos. As generalizações no caminho funcionalista deram conta de inúmeras descobertas e como sugere Klapper, “é tempo de refletir sobre a área que temos tratado (...) e averiguar sua utilidade e também observar seus pontos fracos”. (p. 171)
REFERÊNCIAS
LAZARSFELD, P. F.; MERTON, R. K. Comunicação de massa, gosto popular e ação social organizada. IN: COHN, Gabriel. Comunicação de massa e indústria cultural. 5a. ed.. São Paulo: T.A. Queiroz, 1987, p.230-253.
KLAPPER, J. T. Os efeitos da comunicação de massa. IN: COHN, Gabriel. Comunicação de massa e indústria cultural. 5a. ed.. São Paulo: T.A. Queiroz, 1987, p. 162-173.
NOELLE-NEUMANN, Elisabeth. Os efeitos dos meios de comunicação na pesquisa sobre seus efeitos. IN: ESTEVES, Pissarra João. Comunicação e Sociedade. Lisboa: Livros Horizonte, 2002, p. 151-159.
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