Ao abordar aspectos para o desenvolvimento da pesquisa sobre infografia interativa na América Latina, é pertinente observar pontos apresentados em três textos que relacionam diferentes elementos de pesquisa com a comunicação. E recorrer a uma articulação entre a pertinência do objeto em questão no campo comunicacional e com a sociedade. Não trata-se de uma tarefa simples, diante da confluência disciplinar que desaguou na comunicação, estabelecendo uma dimensão empírica extensa e diversa a ser coberta, como aponta a professora Vera França. Porém, cabe ao pesquisador observar, conhecer o seu objeto inserido na realidade e deixá-lo que se manifeste, a fim de enquadra-lo adequadamente aos estudos da mídia.
Esta dificuldade de enquadrar os objetos de pesquisa em um sistema de agrupamentos que caracterizem o campo comunicativo é evidenciada por autores como Vera França e José Luiz Braga. Este último analisa pesquisas e tenta descrever uma provável articulação entre processos comunicacionais e a sociedade, buscando um tensionamento de posições teóricas e problemas de pesquisa. No contexto geral da visão de Braga sobre este tensionamento estão os componentes de importância e interesse da sociedade midiatizada.
A sociedade, envolvida com as tecnologias de informação que a tornam mediatizada, é o contexto principal para a pesquisa sobre avanço da prática de infográficos em periódicos latino-americanos no ambiente da internet. Como recurso amplamente utilizado por jornais impressos, este modelo migrou para o suporte web para atender a uma tendência social e sua necessidade de informação mais dinâmica e instantânea. O objeto também aponta para o outro lado de uma mesma sociedade, a dos meios de comunicação e a sua intenção de apresentar-se como legítimo na difusão de informação (na verdade, permeada por suas preferências, ideologia e conteúdo simbólico).
Tal direcionamento aponta para a abordagem de Braga acerca dos macro-objetos sociais onde o jornalismo está inserido como um destes elementos. A reflexão que se faz é sobre a intervenção do jornalismo no campo social e como produtor de conteúdo sobre o social. O objeto proposto para a pesquisa, a partir de um recorte espacial em três diários latinos-americanos de países diferentes, foca no comportamento social na região, o processo jornalístico na América Latina (tanto sob o viés social como o político) e o aporte histórico e identitário da região a ser pesquisada.
A base dos textos dos autores, inclui-se Sodré, sinaliza para um campo comunicacional amplo, interdisciplinar, transdisciplinar, que critica o midiacentrismo, considerando que o próprio termo “comunicação” já predispõe uma relação comunitária. Sodré aponta para o conceito de vinculação, “a radicalidade da diferenciação e de aproximação entre os seres humanos” (SODRÉ, 2002, p. 223). A amplitude da comunicação que, por vezes, incorre em engano em seu conceito, sugere a classificações como as apresentadas por Sodré, todas baseadas no “processo social básico de produção e partilhamento de sentido através da materialização de formas simbólicas” (FRANÇA, 2001, p. 41).
As classificações citadas por Sodré (veiculação, vinculação e cognição) sugerem a possibilidade de distinção do amplo e com limites fixados do campo comunicacional, como, por exemplo, as tecnologias de informação que certificam a relação entre os atores sociais. Tecnologias de informação e veiculação que são o conceito de mídia e que seus dispositivos são de “natureza societal”. Considerando que os elementos infográficos na imprensa, na TV e no jornalismo digital são instrumentos tecnológicos de veiculação neste ambiente definido por Sodré de midiatização, observa que este objeto está adequadamente inserido no âmbito da comunicação e de mídia.
Os dispositivos de veiculação, em que os infográficos interativos estão incluídos, representam mudanças nas práticas jornalísticas, ante uma sociedade cada vez mais midiatizada. Os diários impressos tradicionais, notadamente na América Latina, vêm convertendo-se à necessidade de atender a uma audiência sobremodo tecnológica.
Agora como recurso jornalístico no ambiente digital, a infografia insere-se em novas práticas como instrumento da contemporaneidade, da sociedade tecnológica, que pressiona para uma constante transformação das linguagens. Assim, o apelo estético do infográfico interativo tem uma força indispensável, sobretudo, com a difusão das mídias eletrônicas. Por conta da superabundância de informações nos mais variados meios exige-se também uma maior postura de dinamismo da informação e até mesmo estética, caso o objetivo seja alcançar maior audiência. A informação ofertada necessita de maturação suficiente para apresentar-se adequada e eficiente a um leitor assoberbado de notícias.
REFERÊNCIAS
BRAGA, José Luiz . Sobre objetos e abordagens - sua contribuição para a pesquisa em comunicação & sociedade. Revista e Compós, v. 1, n. 1, p. 1-13, 2004.
FRANÇA, Vera Veiga. “O objeto da comunicação/ a comunicação como objeto”, pp. 38-60, in HOHLFELDT, Antonio, MARTINO, Luiz, FRANÇA, Vera Veiga, Teorias da comunicação. Conceitos, escolas e tendências. Petrópolis: Vozes, 2001.
SODRÉ, Muniz. “Communicatio e epistème”. In: Antropológica do espelho. Uma teoria da comunicação linear e em rede, pp.221-259. Petrópolis: Vozes, 2009.
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