terça-feira, 12 de abril de 2011

PERSPECTIVAS INTERPRETATIVAS DOS PROCESSOS MIDIÁTICOS

Uma reflexão acerca do pensamento da Escola de Chicago e do interacionismo simbólico, a partir do texto de Rüdiger, direciona a um viés semiótico no processo da comunicação. Que por meio de símbolos, a comunicação é efetivada e estruturada. Esta estruturação mantém sociedade em consenso na identificação de objetos simbólicos e dando sentido à realidade da vida cotidiana. Este interacionismo simbólico apontado pela Escola de Chicago remete às visões semióticas de Peirce (também citado no texto), e de Bense (1975, p.50) quanto na identificação sígnica que garante a relação com o mundo. Bense afirma que a intermediação da consciência com o mundo é possível apenas pelo signo. O signo impõe linguagens das mais diversas que são captadas pelo homem de várias formas. Este parece ser o ponto de partida do interacionismo simbólico da Escola de Chicago.

A leitura do mundo, proporcionada pela interpretação dos signos, é um processo mediado pela comunicação, que garante a formação e consolidação da sociedade. A comunicação é vetor desta circulação de conteúdo simbólico, possibilitando a relação entre as pessoas. A interação dos indivíduos concretiza-se a partir dos elementos sígnicos e simbólicos que são consensualmente compreedidos através dos processos comunicacionais. Os elementos podem ser sons, cheiros, olhares, cores, texturas, percepções, o imaginável e o palpável. “A comunicação constitui, assim, um processo estruturado por símbolos: é o manejo mais ou menos racional dos símbolos” (RÜDIGER, 2003, p. 40).

Ao observar no texto de Rüdiger, que “a linguagem desempenha um papel fundamental neste processo” de codificação simbólica, a partir de inferências sobre o projeto de pesquisa (os infográficos), percebe-se que os elementos que estão dispostos na infografia (fotos, textos, vídeo, áudio, animações) são formas simbólicas capazes de fazer a mediação entre o signo e o interpretante. E como linguagem, supõe-se trazer consigo elementos da estrutura comunicacional a fim de que os indíviduos convivam em sociedade. Seguindo este sentido, com base no poder simbólico da comunicação e sua relação de poder (por Hugh Duncan), o infográfico pode ser considerado parte de um instrumento do campo comunicacional para fortalecer hierarquias simbólicas, a estrutura social ou interesses políticos.

Importante considerar que as tecnologias de informação não são meros instrumentos de harmonização social, desempenhando tão somente um papel de agente da sociedade, como defendiam os funcionalistas. Para Harry Pross, não são meros canais de mensagens, mas “mediações tecnológicas de estrutura simbólica vigente na sociedade” (p. 49). E inserido neste contexto, o recurso da infografia no jornalismo cabe na atribuição de não compor-se tão somente como um transmissor de informação, mas como aparelho simbólico, que precisa ser analisado. Sua prerrogativa na comunicação necessita ser testada e avaliada sob este viés. Isso porque, na ordem de classificação dos meios de comunicação proposta por Harry Pross, os infográficos são elementos tecnológicos que inserem-se a partir dos chamados “veículos secundários”.

A capacidade da comunicação de estabelecer redimensionamentos sociais, a partir dos meios, imbrica com o ponto de vista de Edward Hall acerca de um pensamento sócio-antropológico da relação do indivíduo com a tecnologia. O conteúdo simbólico é difundido a partir das tecnologias de comunicação, observando também as matrizes culturais. Como deixa claro no trecho em que aponta que “é um erro dos maiores agir como se o homem fosse uma coisa, e sua casa ou suas cidades, sua tecnologia ou seu idioma fosse outra coisa” (HALL, 2005, p.233). Faz necessário avaliar o contexto do objeto de pesquisa (a infografia) com o homem e os seus tipos de extensão, e fazer questionamentos sobre sua relação com a cultura.

Ou seja, partindo para os atores sociais, pode-se admitir que, deixa-se os espaços restritos da mídia para entrar no campo vasto das mediações e a entender todo o processo de recepção ante a diferentes receptores e que tais receptores comportam-se de forma diferente ante a informação veiculada, ante ao discurso, ante à produção simbólica da comunicação.

Examinar a comunicação em seu papel social e como produtora de conteúdo e os efeitos nos mais diversos nichos culturais demonstram a complexidade de seu conceito. Conceito este que, há séculos, passou de uma relação de comunhão, de “por em comum”, para significar a atividade dos ônibus, dos telégrafos... Seja no seu sentido latino (communicare), francês ou inglês (sentido de transmitir, transporte), entre os séculos XIV e XVIII, o termo ganhou amplitude até designar os meios de comunicação, como imprensa, TV, rádio e cinema. Passou pela Teoria Matemática da Informação, que influenciou nomes das ciências humanas e mesmo contestada, ainda é usada até hoje, até um dos questionamentos das pesquisas de linguagem do chamado “colégio invisível”: “dentre os milhares de comportamentos corporalmente possíveis, quais são aqueles retidos pela cultura para constituir conjuntos significativos?” (WINKIN, 1998, p. 31).

São visões múltiplas de comunicação e os níveis de complexidade que, no entanto, formam um todo, como numa orquestra. Na analogia de Winkin, as partes de uma orquestra apresentam particularidades, estruturas próprias, identidades e expressões peculiares. Percebi uma relação com as matrizes culturais inseridas no campo da comunicação: cada uma com sua propriedade, mas inserida no todo. É necessário observar o “modelo orquestral da comunicação”, identificar as partes e adentrar na complexidade da comunicação como um fenômeno social.

REFERÊNCIAS

BENSE, Max. Pequena estética. 2a. ed. São Paulo: Perspectiva, 1975.

HALL, Edward T. A proxêmica e o futuro do homem. In: ___. A dimensão oculta. São Paulo: Martins Fontes, 2005, p. 224-234.

RÜDIGER, Francisco. A Escola de Chicago e o interacionismo simbólico. In:____. Introdução à teoria da comunicação: problemas, correntes e autores. 2ed. São Paulo: Edicon, 2003, p. 37-53.

WINKIN, Yves. O telégrafo e a orquestra. In: ___. A nova comunicação. Campinas: Papirus, 1998, p. 21-34.

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