domingo, 8 de maio de 2011

PERSPECTIVAS DISCURSIVAS DOS PROCESSOS MIDIÁTICOS

“Nenhuma informação pode pretender, por definição, à transparência, à neutralidade ou à factualidade”. Partindo de uma frase do texto de Charaudeau (2006, p.42, foto) é possível verificar a complexidade da informação, mitificada e simplificada pelo senso comum e apresentada por veículos de comunicação como um discurso propagandista, acreditando ser possível dar um tratamento isento, imparcial junto à audiência. O autor aponta esta intenção midiática de se autolegitimar como a mais competente no trato com a informação.
A informação traz em sua essência a subjetividade e os discursos, embora existam os que creem na informação de caráter apartidário, o que na visão de Charaudeau é um avaliação ingênua. Ingênua porque transformaria a informação em apenas um elemento inserido em uma socidade tecnicista, como na contestada Teoria da Informação. Por esta abordagem teórica, a relação emissor-receptor na transferência da mensagem foi a base dos estudos da teoria informacional, desde Shannon e Weaver (1945), quando sua Teoria Matemática da Informação destinava-se tão somente analisar o sistema de transmissão da informação via canais físicos, como telégrafo, telefone e rádio.
O objetivo das pesquisas era observar a quantidade de informação transmitida por um canal, considerando outros aspectos como falhas e distorções. A finalidade era determinar numericamente a porção de informação recebida pelo usuário. Nota-se que tal processo visava uma finalidade técnica, cuja essência passou a ser empregada por outros campos de estudo.
A Teoria da Informação estruturou o esquema baseado na fonte de Informação-canal-recepção, justaposto para outras áreas de conhecimento como as ciências humanas. Mas, o modelo, em si é inocente como aponta Charaudeau, por desconsiderar aspectos sistêmicos da linguagem, da construção da informação. No processo de transmissão da informação, o emissor precisa interpretar os dados que ao serem encaminhados ao receptor necessariamente não significará que a sua interpretação será a mesma da origem. Tal procedimento não passa de um modelo fechado “instaurando uma relação simétrica entre a atividade do emissor, cuja função seria “codificar” a mensagem, e a do receptor, cuja função seria “decodificar” a mesma mesma mensagem” (p.35)
Sob aspectos da mídia, a informação é a matéria-prima da notícia e para que este produto seja comercializado para o maior número possível de indivíduos, é feito o uso de vários tipos de discurso com a finalidade de alcançar seus objetivos. Para isso são utilizados os discursos informativo (voltado à transmitir o saber), o propagandista (para seduzir e persuadir o alvo), o científico (que exige uma prova racional), o didático (com o objetivo da explicação).
Ao ler este texto e estabelecendo um tensionamento com o objeto de pesquisa (os infográficos), nota-se que há uma imbricação do discurso informativo e didático com a finalidade de ofertar a informação para uma maior quantidade possível de indivíduos. Para que isso seja possível, cumpre-se a atividade da “vulgarização”, que como assinala Charaudeau “é, por definição, deformante”. Transmitir a informação de maneira que possa ser compreendida pela maioria das pessoas. Embora a vulgarização seja mais evidente na televisão, Charaudeau não exime a imprensa e o rádio deste processo.
Surge uma questão: a infografia, por seu caráter explicativo, estaria enquadrado neste processo de vulgarização, considerando que Sancho (2000 apud CAIRO, 2008, p.21) define infografia como “uma contribuição jornalística, realizada com elementos icônicos e tipográficos, que permite ou facilita a compreensão dos acontecimentos, (...) e acompanha ou substitui o texto informativo”? Observando o texto de Charaudeau, sim, entendendo que o objeto ajusta-se num “quadro de inteligibilidade acessível” (p.62). A informação infográfica é, por assim dizer, deformante?
Vulgarizar, facilitar a transmissão da informação, implica também na transferência de conteúdo simbólico. Este conteúdo é assimilado pela audiência/leitor através dos signos linguísticos, da estrutura da linguagem (ou, para a semiologia, sistemas sígnicos mais amplos). A linguística é a base do estruturalismo e, como aponta Mattelart “tem a tarefa de estudar as regras desse sistema organizado por meio das quais se produz sentido” (1999, p.86). O discurso da mídia se faz valer do uso da linguagem e do processo simbólico, ao considerar parte do sistema semiológico de Saussure e Barthes: “significante-significado e denotação-conotação”. Althusser (foto ao lado) vê a mídia, ainda, como o que ele denominou de “aparelhos significantes”, que têm como função “garantir e perpetuar o monopólio da violência simbólica” (p.95).
Foucault considera a mídia, ou o “dispositivo visual”, “um modo de organizar o espaço, controlar o tempo, vigiar continuamente o indivíduo e assegurar a produção positiva de comportamento” (p.98). Assim, é possível fazer uma relação da televisão com o panóptico, da figura que consegue vigiar a todos, sem poder ser visto. No caso televisivo, o panóptico é invertido, e os vigiados veem sem serem vistos.
É preciso citar, dentro do estruturalismo, modelos que integram o processo do discurso e de conteúdo simbólico. Foucault estabelece uma estrutura em que observa angulações discursivas chamadas de “procedimentos de controle e de delimitação do discurso”: o comentário na sociedade (o desnivelamento do discurso), o autor (como agrupamento do discurso), disciplina (conjunto de métodos), o ritual (qualificação dos indivíduos que se expressam), sociedade do discurso (conservar e produzir), doutrina (reconhecimento de verdades e aceitação de certa regra).

REFERÊNCIAS
CAIRO, Alberto. Infografia 2.0 - visualización interactiva de información en prensa. Madrid: Alamut. 2008
MATTELART, A. & MATTELART, M. O estruturalismo. In: ____. História das teorias da comunicação. São Paulo: Loyola, 1999, p. 86-102.
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 2004, p. 21-45.
CHARAUDEAU, Patrick. O que quer dizer informar. In: ____. O discurso das mídias. São Paulo: Contexto, 2006, p. 31-63.

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