segunda-feira, 18 de outubro de 2010

INTRODUÇÃO A DOUGLAS KELLNER



Comecei a estudar o livro "Cultura da Mídia", de Douglas Kellner, e logo, a princípio, percebi muita semelhança com Barbero acerca dos Estudos Culturais. Ao considerar aspectos de hegemonia, o autor americano atenta que os indivíduos podem acatar ou rejeitar as influências da mídia, numa ação negociada como afirmou Barbero. Ou seja, não deixa de fazer uma crítica à Escola de Frankfurt e à Indústria Cultural, de que a ação dos meios à massa é imposta, de manipulação incontrolável. Entende-se que ambos fazem parte de um mesmo alinhamento conceitual, que é a base dos Estudos Culturais: Kellner observa o impacto da produção destes meios junto à audiência.
No artigo de Alexandre Busko Valim, Kellner fundamenta seu trabalho na vertente de outros integrantes dos Estudos Culturais, como Raymond Williams, Richard Johnson e Stuart Hall, produzidos entre as décadas de 1950 e 1960. São estudos que fazem crítica a transformação de bens culturais em mercadoria, padronização e massificação, mas que apoia no princípio hegemônico e contra-hegemônico de Gramsci, além de estabelecer ênfase às matrizes culturais e à recepção.
Kellner busca o equilíbrio nas relações hegemônicas de produção e difusão de "textos culturais", fundamento no conceito de Stuart Hall de "articulação", que visa exatamente encontrar um meio termo entre dominador e dominado, enfrentando assim a teoria da manipulação (que vê um domínio dos meios e da cultura na sociedade ) e a teoria populista da resistência (que vê formas dos indivíduos de resistirem a este domínio).


Assim, é importante observar que, havendo esta negociação, renegociação na relação hegemônica e na ação dos meios, a audiêncita também vê nestes meios uma identificação, um interesse comum. Mas, também a cultura da mídia cria meios de controle ideológico, apontado por Kellner em produções como Rambo (foto), que caracteriza uma autolegitimação do poderio americano – embora o país perdera a guerra do Vietnã –, basedo na ideia de que o Vietnã representa o mal e que a luta pela justiça e a igualdade é uma bandeira dos Estados Unidos. Há outros exemplos no cinema que sinalizam para esta forma ideológica de controle. Kellner enfatiza produções americanas e analisa a cultura estadunidense, mas tais análises servem para aplicação num contexto global. E aponta, além da cultura midiática quanto à ideologia, o fortalecimento de identidades também advindas desta cultura, como por exemplo, a discussão em torno da questão racial nos filmes de Spike Lee, nos rap de Public Enemy.
O autor deixa bem evidente sua crítica à ideologia marxista, como exposto neste blog, de que não há meios capazes de agir contra a influência hegemônica. Deixa claro também a inserção de seu pensamento na Teoria das Mediações Culturais, ao observar comportamento sexuais, de etnias, raças e de grupos na produção midiática (exemplo dos filmes de Spike Lee e dos rap). Valim acrescenta que as ligações de Kellner aos Estudos Culturais passam também pela teoria pós-moderna, que elucida "certas características novas e mais evidentes de nossa cultura e de nossa sociedade". Esta combinação de teorias modernas com aspectos teóricos pós-modernos vem a tornar-se, para Kellner, "o instrumental mais útil para se fazer teoria social e crítica cultural na atualidade."
Kellner estabelece parâmetros ao distinguir identidades sob a perspectiva moderna e pós-moderna. E leva a observação sobre perfis de identidade consideradas superficiais frente à concepções da identidade moderna. A série Miami Vice é exemplificada como meio que expõe a superficialidade da identidade construída a partir de escolha, a partir da aparência, imagem e consumo. Cita, do mesmo modo, o exemplo de Madonna. São dois modelos de identidades pós-modernas, construídas por imagens e pelo consumo, o que, assim, manifesta-se instável, mais sujeitas às mudanças do que as identidades modernas. Como no artigo de Valim, há ainda mais incertezas que certeza quando um tema é levado sob a concepção da teoria da pós-modernidade.

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