quinta-feira, 14 de outubro de 2010

SOCIEDADE DE MASSA

É importante considerar alguns pontos de Martin-Barbero quando refere-se à “Psicologia das Multidões”, na página 59 do livro “Dos Meios às Mediações”. Importante, porque é a partir dos estudos de formação das massas que compreende-se todo o processo midiático sobre às multidões. Os estudos começaram desde o séculos XIX, embora muitos estudiosos de comunicação apontam para os anos 30 e 40 do século passado. Barbero alerta para pesquisas que não mantiveram uma ligação histórica do surgimento social das massas. E tal ligação tem a ver com o progresso social no século XIX proporcionada em boa parte, pela Revolução Industrial. A sociedade de massa passa a desempenhar um papel, que assusta a aristocracia. Tudo sob o efeito da industrialização capitalista que avança às massas e deixa a burguesia perplexa. Havia uma separação nítida entre burguesia e as massas.
A multidão descobre a política. Se antes estava fora da esfera social, as massas enquadravam-se dentro, “dissolvendo o tecido das relações de poder, erodindo a cultura, desintegrando a velha ordem" e afeta sobremaneira a sociedade naquela época. Barbero cita Tocqueville ao afirmar que ele olha “a emergência das massa sem nostalgia” (p.56). Foi por influência desta emergência, que Tocqueville acredita ter dado início ao que se conhece hoje por democracia moderna.
O autor faz uma crítica à formação da democracia moderna, baseada na vontade da maioria. Segundo ele, deixa-se de lado o que se tem maior razão e virturde e valoriza o que é querido pela maioria. “Desta maneira, o que constitui o princípio moderno do poder legítimo acabará legitimando a maior das tiranias” (p. 57), visto que a minoria não terá a quem recorrer das injustiças. E forma sociedades mais individualistas, embora uniformizadas na maneira de viver. Uniformidade que vem a ser criticada em seguida, por transformar a sociedade numa degradação. “Massa é então a mediocridade coletiva que domina cultural e politicamente, pois os governos se convertem em órgãos das tendências e dos instintos das massas” (p.59).
Gustave Le Bon menciona que a civilização industrial não é possível sem a constituição da massa, das multidões. Fazem-se necessárias suas manifestações, suas turbulências para que torne-se visível a “alma coletiva”. Considerando este princípio, Barbero define:
“O que é massa? É um fenômeno psicológico pelo qual o indivíduo, por mais diferente que seja em seu modo de vida, suas ocupações ou seu caráter, estão dotados de uma alma coletiva que lhes faz comportarem-se de maneira completamente distinta de como o faria cada indivíduo isoladamente” (p.59-60). Estabelece também uma relação primitiva nesta alma coletiva, visto que as inibições provocadas por aspectos morais e éticos desaparecem para que façam aflorar instintos naturais, que subvertem, que afrontam leis, a ordem estabelecida.
Barbero alerta também para outro aspecto a ser considerado nas massas. Não apenas a psicológica, mas também a cultural. Segue o pensamento freudiano de que nas massas não existem apenas os instintos, mas igualmente, as produções, tais quais os idiomas, o folclore e os cantos populares.

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