Ao me aprofundar um pouco mais sobre os estudos de Martin-Barbero e o seu maior referencial teóríco-epistemológico acerca do deslocamento de uma análise metodológica comunicacional não a partir dos meios, mas das mediações, notei maior clareza quando o próprio Barbero deixa evidente em seu livro: “A comunicação se tornou para nós questão de mediações mais do que meios, questão de cultura e, portanto, não só de conhecimentos mas de re-conhecimento” (p.16). E torna-se mais compreensível este processo de descentralização ao observar o conceito de cultura abordado pelo autor.
O professor Laan Mendes de Barros aponta em seu artigo “Os Meios ou as Mediações?” apresenta o percurso interdisciplinar no pensamento de Barbero, solidificando a ideia de cultura, a partir de uma visão “antropologizada” e não tão-somente sociológica. Ou seja, ao considerar aspectos culturais sob o viés antropológico (de estudos primitivos) entende-se que cultura é tanto a oca quando quanto os parentes, tanto o machado quanto o mito (especificado por Barbero na página 13) e que, assim, a cultura não pode ser separada, descompartimentada. Sobretudo nas sociedade moderna alimentada por bens simbólicos (televisão, escola, igreja, imprensa), toda estas relações contribuem para a construção da vida social, caracterizando como uma cultura “antropologizada”. Barbero destaca essa visão visto que a sociologia, segundo ele, vê a cultura a partir de atividades e objetos, em sua maior parte, ligada às artes e às letras.
Todo este caminho socio-antropológico chega à comunicação na base crítica do “midiacentrismo”, da sociedade capitalista e dos meios de comuunicação. Base crítica, que Barros considera até mesmo refutações, ao direcionamento marxista, elitista (nos estudos da Indústria Cultural) da Escola de Frankfurt. É neste pavimento entre cultura e comunicação que o pensamento de Barbero se insere.
O deslocamento proposto é o diferencial dos estudos apresentados por Martin-Barbero na comunicação latinoamericana. E tais estudos culturais, cujo deslocamento sinzliza para o campo das recepções tem influenciado outros autores (não apenas na América Latina), mas também em outros continentes. Por isso, que ao falar de Barbero faz-se imprescindível observar cultura (linha sócio-antropológica), deslocamento teórico- metodológico de atenção da pesquisa dos meios para as mediações (crítica ao midiacentrismo predominante no pensamento dos estudos comunicacionais latinoamericanos), mediações como cultura social, mas também como produção de significado (numa associação ao pensamento de Silverstone) e confronto com o funcionalismo hegemônico na comunicação (marxismo, indústria cultural e Teoria Crítica).
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