segunda-feira, 1 de novembro de 2010

CONEXÃO DAS TICS E OS SETE PROCESSOS DE MIÈGE

Fazer uma conexão entre desenvolvimento técnico e práticas sociais é a base dos estudos de Miège. Esta relação está atrelada diretamente com o aparecimento das Tics, as tecnologias de informação e comunicação. Tal relacionamento era pouco analisado pelos estudos da comunicação, que limitava-se a compreender uma transformação social a partir da midiatização, não a partir de seus instrumentos tecnológicos enraizados nesta sociedade. Por isso, Miège esclarece que é preciso medidas profiláticas na abordagem de novas ferramentas de Tic, visto que é necessário observar sua acomodação social e de que forma se processará o enraizamento.
Está claro, como Miège aponta que Tic é tudo aquilo que coloca o indivíduo em comunicação, notadamente as ferramentas e os desdobramentos em torno delas, como o caso da telefonia e, subsequentemente, a internet; a internet e, em seguida, os dispositivos móveis de conexão, como os smartphones e os tablets. A definição da Tic sinaliza para a observação dos processos de mediação e enraizamento social, base também das análises do autor.
Uma forma de mediação é a ligação entre a sociedade e as novas tecnologias. Braga mostra que as demandas sociais é que proporcionam o avanço tecnológico e não o contrário, como se a tecnologia regesse as práticas da sociedade. Este diálogo coadnua com o pensamento de Miège: a sociedade determina o desenvolvimento técnico e este desenvolvimento é constantemente melhorado também por uma ação social. Isto é o que caracteriza a mediação e o enraizamento social.
Este contínuo desenvolvimento da sociedade e das tecnologias de informação leva Miège a apontar sete processos de enraizamento, seegundo aponta Gambaro (2009, p.6) no artigo “O uso das novas TICs pelas emissoras de rádio: uma análise dos casos paulistanos e o referencial de Bernard Miège”:

1) A informacionalização, ou seja, o aumento na oferta de informações, tanto daquelas editadas por profissionais no âmbito das empresas de comunicação, como aquelas produzidas por leigos ou de caráter técnico, que outrora seria principalmente de circulação restrita. A esse processo podemos ligar, por exemplo, o uso de ferramentas como blogs e fóruns.

2) A mediatização da comunicação, que responde pela maior presença de tecnologia nas relações de comunicação (como os e-mails, os jornais na internet, o rádio via web, etc). No entanto, isso não significa que modos anteriores de comunicação, foram ou estão em vias de serem substituídos: na verdade, as tecnologias se somam àquelas já existentes, com alguma adaptação da audiência. O mais relevante é que o processo de mediatização implica diretamente em uma aquisição de competências comunicacionais pelos usuários, e tais competências são conquistadas com os usos, cada vez mais individualizados.

3) Ampliação da esfera midiática; esse processo considera a concorrência que os meios de comunicação de massa enfrentam com os serviços originados a partir da novas TICs, o que resulta diretamente numa pluralidade de dispositivos pelos quais os meios de comunicação distribuem seus conteúdos. Existem nesse contexto dois fatos importantes: os portais de internet ganham maior importância e complexidade, e de certa forma os consumidores esperam que os novos meios se distingam dos anteriores, indo além da comunicação quase unidirecional para práticas mediáticas menos dirigidas e mais interativas. É importante notar que não ocorre substituição dos meios de comunicação de massa pelos serviços de acesso individual a informação.

4) Mercantilização das atividades comunicacionais, ou seja, abre-se a possibilidade de um mercado que pode cobrar do usuário final por práticas de comunicação que, dada em outra esfera distante de certas modalidades tecnológicas seriam gratuitas.

5) A generalização das relações públicas surge com a aproximação dos recurso tecnológicos nos diferentes estratos profissionais, de forma que os departamentos de relações públicas das empresas não ficaram de fora, sendo alçados aos status de produtores de conhecimento (e informação) com credibilidade reconhecida.

6) A diferenciação das práticas sociais; ao definir este processo, Miège indica que as práticas originadas com os usos sociais das novas TICs não significam o abandono de práticas anteriores, possíveis dentro de outras tecnologias. As práticas sociais botam em movimento todo um sistema de identificação sócio-simbólico que torna possível diferenciar social e culturalmente, por exemplo, a audição do rádio no carro, indo ao trabalho, e de um programa acessado via podcast. Outro ponto importante a ser considerado é que as tecnologias não vão reordenar as coisas: continua havendo diferenças nos acessos às tecnologias como há diferenças nos usos, pois existe uma estratificação no acesso que não é tão facilmente rompida. Essa estratificação não corresponde somente aos jogos entre indivíduos economicamente distintos, como também às diferentes gerações de pessoas e os usos dados às tecnologias: se os chats e sites de perfis podem servir como desvios sociais para os mais jovens, as pessoas de mais idade tendem a fazer deles um uso mais próximo das práticas cotidianas.

7) A circulação dos fluxos e a transnacionalização das atividades infocomunicacionais; o que indica uma interdependência entre a globalização e as TICs.

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