terça-feira, 28 de setembro de 2010

OS ESTUDOS CULTURAIS CRÍTICOS

Fazendo um passeio pela internet, deparei com o texto “Uma Abordagem Multiperspectívica para os Estudos de Recepção: o Caso Lasier Martins versus MST”, de Vilso Junior Chierentin Santi e Fábio Souza da Cruz. Não vou entrar no mérito do tema abordado na pesquisa da dupla, mas num ponto que me chamou a atenção a partir de meus estudos acerca dos culturalistas. Um ponto precisa ser considerado: as relações dos meios de comunicação com as matrizes culturais, em especial a movimentos (como no caso específico aqui, o MST). Isso leva a pensar a comunicação além das teorias funcionalistas que concebiam as mídias como “novas ferramentas das democracias modernas, como mecanismos decisivos de regualaç
ão da sociedade” (MATTELART apud SANTAELLA, p.39). Pode considerar tal ponto de vista como princípio ou mesmo como utopia.
As relações precisam ser vistas sob à visão de estudos críticos da comunicação e o caminho estaria nos Estudos Culturais, que no Brasil desembarcaram a partir de três momentos. “O primeiro deles foi a tradução para o português a obra “Cultura e Sociedade” de Raymond Willians em 1970.
O segundo, o lançamento do livro “Dos Meios às Mediações” de Jesús Martín-Barbero e a difusão das idéi
as de outros autores como Néstor García Canclini”. Outros nomes emergem na atualidade para os Estudos Culturais Criticos, como o do americano Douglas Kellner (foto ao lado). O autor defende que não há como dissociar cultura e mídia e que as produções midiáticas são sempre englobadas pela cultura. E propõe o que ele den
omina como “Pedagogia Crítica da Mídia”, consistindo na “resistência à manipulação e a tonificação do repector frente à cultura midiática dominante”.
Portanto, percebe-se uma forte tendência de observar a recepção nas articulações entre meios de comunicação e os movimentos sociais. Barbero desloca o eixo dos meios para as mediações, avaliando questões temporais e a pluralidade de matrizes culturais. (p.280). Encaminhei-me ao texto de Barbero (A Mistura do Povo e Massa no Urbano) que observa tais pluralidades e critica posicionamentos maniqueístas na concepção entre popular e urbano, como o mito de atrelar o urbano ao “antônimo de popular”. Tal conceito é considerado por Barbero como um renitente posicionamento da elite aristocrática.
Diante de um universo de percepção que divide o popular do urbano, caracterizando o primeiro como ingênuo, imaturo e politicamente infantil, e o segundo como ligado a uma cultura maturada, surgem novas reflexões sobre o popular urbano, cujas identificações seriam modificadas ou “homogeinizadas” pela Indústria Cultural: os impactos provocados pelo advento do rádio e do cinema (convertendo o populismo em nacionalismo na América Latina) e, em seguida, pela televisão (com ações mais dinâmicas a partir dos anos 60), com a difusão de bens e produtos, o discurso sobre o que é modernidade e o que é anacrônico, e a linguagem. “O rádio nacionalizou o idioma, mas preservou alguns ritmos, sotaques, tons. A televisão unifica para todo o País uma fala na qual, exceto para efeito de folclorização, a tendência é para a erradicação das entonações regionais” (p.280)
Voltando para os estudos culturais, nota-se o deslocamento do eixo dos meios para as mediações e ao mover aos atores sociais, em suas matrizes culturais, desenvolve-se, então, toda a complexidade dos estudos das mediações. Como citado no texto, “estudar a cultura da mídia também implica em realizar uma investigação que desloque a ênfase dos meios para as mediações, promovendo uma integração entre produção, texto e recepção (CRUZ, 2006, p.69)”.
Partindo para os atores sociais, pode-se admitir que, deixa-se os espaços restritos da mídia para entrar no campo vasto das mediações e a entender todo o processo de recepção ante a diferentes receptores e que tais receptores comportam-se de forma diferente ante a informação veiculada, ante ao discurso, ante à produção simbólica da mídia. Inclusive, grupos expõem reação de resistência a esta produção simbólica, não compactuando com sua essência. Outros aceitam em parte, descartando aquilo que não convém; outros, simplesmente aceitam o discurso em sua totalidade, reproduzindo-o em seguida.
Este processo de recepção se dá em dimensões que merecem ser consideradas e não apenas no manejamento do receptor com a máquina difusora das informações. Ou seja, a influência (ou não) dos meios e das mensagens não se estabelecem tão somente no momento em que a televisão é ligada e desligada. Ela provoca contornos em diversos agentes e instituições sociais, como apontado por Orozco Gomes. É o que o trabalho nomina como avaliar o abarcamento do nível empírico. O estudo de recepção necessitaria de avalar o volume e os diversos cenários sociais deste abarcamento.

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