domingo, 24 de abril de 2011

PERSPECTIVAS CRÍTICAS DOS PROCESSOS MIDIÁTICOS

A partir de pontos expostos em três textos é possível fazer uma relação articulada acerca da Teoria Crítica, sua evolução, e as contribuições da Escola Paulista de Ciências Sociais a estes estudos. A Teoria Crítica, que nasceu nos anos 20, na Alemanha, ganhando maior força após a II Guerra Mundial, interpreta a relação da transformação de bens culturais em mercadoria, baseando-se na ideia inexorável de dominação das massas, cujo discurso é assimilado por um receptor passivo, num processo de manipulação das consciências. O termo foi adotado pela primeira vez por Theodor Adorno e Max Horkheimer (foto) na obra “Dialética do Esclarecimento”, produzida na década de 40. Até então, utilizava-se o termo “cultura de massa”, excluindo o pensamento de uma cultura surgida a partir dos indivíduos. Ao contrário, a indústria cultural, na visão destes autores, molda a massa.

O conceito é muito contestado por pesquisadores da comunicação, sobretudo aqueles ligados aos Estudos Culturais. Outros consideram seus aspectos conceituais superados, “caducos, tornando-se denuncismo rancoroso e discurso depressivo” (RÜDIGER, 2002, p. 88). Mas, reconhecem que a Teoria Crítica ampliou os caminhos para pesquisas que levaram a outros estudos, como a Teoria das Mediações. Para a Teoria Crítica, a ação da indústria cultural é produzir mercadorias culturais que atuam sobre a audiência e obtêm resultados uniformes. Não são considerados, neste caso, estratégias ou a capacidade dos indivíduos de reagirem à esta produção. Como Adorno e Horkheimer citam na “Dialética do Esclarecimento”, os consumidores “são reduzidos a um simples material estatístico” (1985, p.102) e que o único fim seria o capital.

A indústria é capaz de alimentar a “inércia” deste consumidor, como em processos de edição em produções cinematográficas, que possibilitam a exibição de trechos rápidos e constantes que “proíbem a atividade intelectual do espectador” (1985, p.104). O próprio lazer, os momentos de diversão, que significariam descanso da labuta, um recolhimento das ações hegemônicas do trabalho, são elementos estratégicos da indústria cultural, que remonta à relação ao pensamento de Lazarsfeld acerca do tempo conquistado pelos operários com movimentos reformistas e que é mal aproveitado. O consumidor não consegue fugir deste processo industrial/capitalista.

A mercantilização da cultura também caracterizou-se pela estilização, pela estandartização dos produtos artísticos. Wolf (2003, p. 77) sinaliza que a indústria cultural além de moldar o indívíduo e os produtos, estabelece formatos que “exclui tudo o que é novo”. “A novidade que esta oferece continuamente é apenas a representação, em formas sempre diferentes, de algo igual”.

Ao relacionar com o objeto de pesquisa (os infográficos) é possível fazer uma relação de sua essência com a indústria cultural, com o processo de transformação de produtos culturais em mercadoria. Um tensionamento com o conceito de Adorno e Horkheimer levam a supor que os infográficos enquadram-se no sistema dos meios de comunicação de massa, que agem em conjunto na “manipulação das massas”, na concretização do poder econômico sobre a sociedade. Porque para os autores, cada elemento que compõe a indústria cultural são engrenagens nesta operação de domínio. “O processo de trabalho integra cada elemento, “desde a trama no romance, que já tem em vista o filme, até o último efeito sonoro” (ADORNO E HORKHEIMER, 1947, p. 134 apud WOLF, 2003, p. 76).

Porém, a Teoria Crítica é contestada por não observar, segundo alguns autores, aspectos benéficos dos meios e também a diversidade dos estratos sociais. Ou seja, considerar também os nichos culturais. O conceito de hegemonia gramsciano fez com que teóricos como Jésus Martin-Barbero, teórico dos Estudos Culturais latinoamericanos, compreendesse o processo de comunicação além dos meios, movendo o eixo para as mediações, observando suas variedades sociais. Estas variedades estão relacionadas à estrutura (classe social, experiências, conhecimentos, família), instituição (escola, igreja, política, esporte), conjuntura (modo de enxergar a vida, acervo cultural) e tecnologia (televisão, rádio, cinema, etc.).

Rüdiger cita Gabriel Cohn, da escola paulista, que atenta para a necessidade de estudo das mediações e na produção simbólica, que ele considerou como categoria básica na pesquisa em comunicação. Sodré e Ciro Marcondes Filho também observam este aspecto. “Absurdo e opressivo não é o conteúdo da mensagem, mas a forma que esse conteúdo assume socialmente, indutora de uma relação de poder incontestável” (SODRÉ, 1977, 41-42 apud RÜDIGER, 2002, p. p. 96).

Ou seja, relacionando com os infográficos, nota-se que este instrumento é sobremaneira mais abrangente que um elemento de uso para dominação econômica. Traz consigo simbologia, conteúdos que precisam ser considerados. Se a Teoria Crítica detia-se com maior ênfase à mercantilização da cultura, é preciso (na linha dos teóricos atuais) considerar o discurso destes produtos culturais. Os autores atuais percebiam, intrinsecamente, a composição da dimensão simbólica na Teoria Crítica, embora pouco salientada. Esta deixa para estudos subseqüentes poderia estar em frases como esta de Adorno: “A mensagem escondida pode ser mais importante que a evidente” (ADORNO E HORKHEIMER, 1954, p. 134 apud WOLF, 2003, p. 82).

REFERÊNCIAS

WOLF, Mauro. Contextos e paradigmas na pesquisa sobre os meios de comunicação de massa (1.6 A teoria Crítica). IN: ___. Teorias da comunicação de massa. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 72-93.

ADORNO, Theodor & HORKHEIMER, Max. A Indústria Cultural: o esclarecimento como mistificação das massas. IN:____. Dialética do Esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1985, p. 99-138.

RÜDIGER, Francisco. A pesquisa crítica nos estudos de mídia brasileiros. IN: ____. Ciência social crítica e pesquisa em comunicação. São Leopoldo-RS: Unisinos, 2002, p. 87-111.

MARTIN-BARBERO, Jesús. Dos meios as mediações: comunicação, cultura e hegemonia. Traduzido por Ronald Polito; Sérgio Alcides. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2003

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