domingo, 1 de maio de 2011

PERSPECTIVAS SISTÊMICAS DOS PROCESSOS MIDIÁTICOS

O texto de Ronaldo Henn apresenta aspectos da Teoria Geral dos Sistemas, buscando reflexão acerca da interrelação de elementos que compõem uma unidade e fazer um tensionamento com o jornalismo. Henn aponta o caráter importante desta teoria por considerar a existência de sistemas abertos, que possibilitem trocas com o meio ambiente. E, ao abordar o pensamento de Morin acerca dos sistemas, Henn aponta para a ênfase organizacional formada a partir de interrelações destes elementos, ou “o tecido articulador do comportamento dos mais diversos sistemas” (HENN, 2002, p.20). Entende-se, portanto, existir parâmetros sistêmicos para o jornalismo, por conter componentes que se interdependem com funções específicas como captação, codificação e emissão de relatos. O que estaria fora deste âmbito é considerado como subsistema.

Mas, o próprio texto de Henn levanta um questionamento. O jornalismo pode ser considerado sistema ou um fio articulado que enquadraria-se num subsistema da Comunicação ou mesmo da sociedade? Na fronteira tênue dos sistemas, é possível com base no texto encontrar relações sistêmicas no jornalismo a partir de pontos que os caracterizam como tal, a saber: permanência, composição, identidade, complexidade, diversidade, autonomia, conectividade, estrutura, integralidade, organização e funcionalidade. Para fazer entender a relação sistêmica do jornalismo, Henn estabelece aspectos das rotinas produtivas elencando todos estes pontos apresentados.

Um dos detalhes que chamou a atenção e que faz uma relação com a abordagem de Luhmann (foto) acerca da “Improbabilidade da Comunicação” baseia-se na relação sistêmica do jornalismo como o seu meio ambiente, uma conectividade (é preciso observar sobre a angulação de sistemas abertos) constituída a partir da atuação jornalista-fonte, que por via consequente, interliga-se com outros sistemas e subsistemas, neste caso, o público (considerando também que este pode servir de fonte adentrando no processo). O movimento sistêmico do jornalismo é vivo e gera vida a outros sistemas sociais. Luhmann aponta para a ideia de não ser possível formar sistemas sociais sem a comunicação.

Morin classifica a cultura como um sistema que garante o processo comunicativo e que esta comunicação é configurada apenas por detentores de um código comum (linguagem, signos, símbolos). A cultura, como base neste sistema, é diferenciada pela experiência existencial - detentora dos código - e o “saber constituído”, ligado à padrões-modelo (que estetiza a vida). É um sistema “homem-sociedade-mundo”.

A comunicação, para Luhmann, tornou possível a transcendência espaço-temporal dos sujeitos, a ruptura destes estágios antes limitados em sistema “diretamente presente e da comunicação cara a cara” (LUHMANN, 2006, p. 47). E Luhmann também considera a sociedade como um sistema, configurados por subsistemas, também reduzidos em outro subgrupo de subsistemas, oferecendo exemplos como “família, política, economia, direito, sistema sanitário e educação” (p.51).

Luhmann reconhece uma sociedade de estrutura ampla e uma comunicação que enfrenta problema de “improbabilidade” (termo que verifica este aspecto sob o ponto de vista do contexto, dos receptores e dos resultados), que, no entanto, se convergem e estabelecem uma interrelação.

Embora, haja uma certa conexão dos pontos apresentados por Luhmann, a intenção no texto de Henn é verificar a relação do jornalismo na Teoria Geral dos Sistemas, enquadrando-o em parâmetros previamente identificados. E um deles é a “complexidade”, visto que “a atividade jornalística comporta-se como um grande investimento empresarial que vende um produto simbólico” (HENN, 2002, p.31). Que na ideia de explicitar uma missão de “informar com imparcialidade”, o que está latente é a “veiculação de ideologias”. E para sustentar esta estrutura, o jornalismo é submetido aos interesses econômicos.

Um ponto de Henn a ser relacionado com a infografia é a reflexão de Ciro Marcondes Filho sobre os investimentos empresariais na notícia como mercadoria. A informação seria uma commodity a receber constantes melhorias. No caso, o surgimento das manchetes, dos títulos, do design gráfico, do uso da cor e por assim dizer, o recurso da infografia, seriam elementos desta atuação do capital sobre a notícia. “O jornal deve vender-se pela sua aparência” (MARCONDES FILHO, 1986, 66-67 apud HENN, 2002, p. 32).

REFERÊNCIAS

LUHMANN, Niklas. A improbabilidade da comunicação> In: ____. A improbabilidade da comunicação. Lisboa: Editora vega, 2006, p.39-63.

MORIN, Edgar. 4. A cultura; 5. A crise da cultura. In: ___. Cultura de massas no século XX - Necrose. Volume 2. 3a. ed. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2001, p. 75-106.

HENN, Ronaldo. Jornalismo e sistemas. In: ___. Os fluxos da notícia. São Leopoldo: Ed. Unisinos, 2002, p. 13-38.

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