quarta-feira, 26 de outubro de 2011

SOBRE A MÍDIA E MODERNIDADE, DE JOHN THOMPSON

OBJETIVO
O estudo de Thompson (foto ao lado) serve para traçar o perfil desta e das subsequentes transformações naquilo que ele denominou de “organização social do poder simbólico” e explorar algumas de suas consequências para o tipo de mundo em que vivemos hoje.

RELAÇÃO MÍDIA, IDEOLOGIA E SOCIEDADE
Thompson observa a relação da mídia e ideologia e suas consequências para a vida social e política do mundo moderno e elabora e desenvolve uma teoria crítica que vem se destacando como poderoso instrumento científico para análise das formas simbólicas.

TEORIA SOCIAL DA MÍDIA E O PROCESSO SISTÊMICO
Entender o impacto social do desenvolvimento de novas redes de comunicação e do fluxo de informação. “O desenvolvimento dos meios de comunicação se entrelaçou de maneira complexa com um número de outros processos de desenvolvimento que, considerados em sua totalidade, se constituíram naquilo que hoje chamamos de “modernidade”” (p.12). Ou seja, Thompson observa o progresso dos meios, desde o surgimento da imprensa no século XV até os modelos mais modernos de comunicação que proporcionou o surgimento das sociedades modernas.


PODER SIMBÓLICO E O EU
Ao observar o pensamento acerca do poder simbólico exercido pela mídia, vê-se em Thompson influência de Bourdieu (violência simbólica), e porque não considerar, da perspectiva interacionista da Escola de Chicago. Mas, sua linha é de crítica ao pensamento determinista da Escola de Frankfurt, contrapondo à linha de receptores como espectadores passivos, que apenas absorvem as mensagens a que são expostos. Aponta que o desenvolvimento das sociedades modernas tornou o processo de formação do eu (self) mais reflexivo e aberto.
Isso seria possível, que a partir de uma variedade de materiais simbólicos disponível hoje em dia, onde os indivíduos dependeriam cada vez mais dos próprios recursos para construir identidades coerentes para si mesmas. Thompson detalha o papel de instiruições da mídia que podem ter na formação de uma vida autônoma e responsável das pessoas. Ou seja, os materiais simbólicos são oferecidos aos indivíduos, que construiriam suas próprias identidades.

CONCORDÂNCIA (EM PARTE) COM HABERMAS
Embora estabeleça uma crítica ao pensamento frankfurtiano, Thompson concorda em parte com Habermas: “A grande força deste estudo de Habermas reside no lugar que ele reserva ao desenvolvimento da mídia como parte integral da formação das sociedades modernas. Ele argumenta que a circulação de matérias impressas nos primórdios da Europa moderna teve seu papel crucial na transição do absolutismo para os regimes liberais e democráticos e que a articulação da opinião pública crítica através da mídia foi de vital importância para a vida democrática moderna”.


ESTRUTURA DE “A MÍDIA E A MODERNIDADE”
O livro é estruturado da seguinte forma:
CAPÍTULO 1: Fundamentos de uma teoria social da mídia e o contexto social dentro dos quais toda a comunicação acontece.
CAPÍTULO 2: Transformações que proporcionaram o surgimento das sociedades modernas, com ênfase na comunicação e instituições midiáticas.
CAPÍTULO 3: Novas formas de interação e ação no mundo moderno com o uso dos meios de comunicação.
CAPÍTULO 4: O impacto do meio em relação ao público e privado
CAPÍTULO 5: Abrangência dos meios de comunicação (globalização)
CAPÍTULO 6: A crescente difusão dos produtos de mídia.
CAPÍTULO 7: A natureza do “eu” e as maneiras como a mídia afeta na sua formação.
CAPÍTULO 8: A reinvenção da ideia de público (da agora da Grécia à interação mediada)

TRES FORMAS DE INTERAÇÃO
Face a face: forma tradicional dos indivíduos de se interagir
Mediada: comunicação por um meio técnico, por exemplo, o telefone
Quase mediada: indivíduos recebem informações dos meios e não tem como interagir.

VISIBILIDADE DO PODER PELA MÍDIA
Thompson questiona: “Antes do desenvolvimento da mídia (especialmente da mídia eletrônica, como o rádio e a televisão), quantas pessoas puderam alguma vez ver ou ouvir indivíduos que detinham posições de poder político?” (p.109)
E acrescenta: “Enquanto a transformação na natureza da esfera política criou novas oportunidades para os líderes políticos, ela também fez surgir novos riscos”. Tais fontes de preocupação advindas pela mídia para os detentores do poder agora vigiados pela mídia vão de “gafes a escãndalos”.

VISIBILIDADE DO PODER PELA MÍDIA 2
Para explicar melhor o pensamento de Thompson sobre as preocupações dos políticos advindas com a mídia, o autor cita durante em entrevista: “Eles se tornam personagens com características identificáveis. Cada vez mais, buscam se apresentar como indivíduos comuns. E a questão da personalidade, do caráter, passa a ser mais importante para a vida política. Tudo aquilo que, antes, permanecia oculto nos bastidores da ação política, vem a público com as novas tecnologias de vigilância e investigação – câmeras escondidas, fitas de gravação, grampos de telefone, etc. Com isso, é possível captar, documentar e depois veicular o que está escondido. Neste sentido, a fronteira entre eventos públicos e privados torna-se obscura. Ações e posicionamentos que, até então, os políticos julgavam manter no domínio do privado, passam a ser transmitidos para uma ampla audiência. Bill Clinton e a estagiária Monica Lewinsky descobriram o fenômeno na própria carne.”

FRONTEIRA DO PÚBLICO E DO PRIVADO
“A Mídia e a Modernidade” trata desta fronteira do público e do privado cada vez mais tênue: o poder estatal atuando como intervencionista de questões privadas, como a atividade econômica da sociedade civil. E a sociedade civil, com a formação de grupos e organizações na intenção de pressionar e influenciar a política estatal.

EXEMPLOS DESTA ARENA MEDIADA


Depoimento da professora Amanda Gurgel na Assembleia Legislativa do RN



Prisão de 28 políticos em Dourados (MS) e flagra do prefeito com dinheiro de propina - nível nacional



Odilon Aires e o dinheiro da propina - nível nacional


Gafes do presidente Bush - nível mundial

ESCÂNDALO COMO FENÔMENO MODERNO
Thompson: “A idéia do escândalo é muito antiga. Pode ser remetida ao início da era clássica grega e até mesmo ao pensamento judaico. A palavra escândalo surge ainda, no século 16, nas línguas romana, francesa, portuguesa e inglesa. Você pode encontrá-la também na literatura panfletária do século 17 e do século 18. Mas, neste caso, era uma literatura de agressão e blasfêmia contra os monarcas. Uma mudança significativa acontece na virada do século 18 para o 19, quando o termo é desvinculado do sentido de blasfêmia e passa a se referir a um tipo particular de evento, intimamente ligado à imprensa. Temos aí a emergência de um novo fenômeno, que é o escândalo como um evento de mídia. É, portanto, um fenômeno moderno”

GLOBALIZAÇÃO DA COMUNICAÇÃO
Estes exemplos, com base nos escritos de Thompson, coadunam com sua definição de Globalização da comunicação. Segundo Thompson, a comunicação está cada vez mais global. “Mensagens são transmitidas através de grandes distâncias com relativa facilidade, de tal maneira que indivíduos têm acesso à informação e comunicação provenientes de fontes distantes”. E que a “reordenação do espaço e do tempo provocada pelo desenvolvimento da mídia faz parte de um conjunto mais amplo de processos que trannsformaram o mundo moderno” (p.135)

FRASE PARA REFLETIR SOBRE O PENSAMENTO DE THOMPSON
“O homem é um animal suspenso em teias de significado que ele mesmo teceu” (Geertz)

FRASE PARA REFLETIR SOBRE O PENSAMENTO DE THOMPSON
“Eu tenho dito que, na minha opinião, no princípio tudo era caos isto é, terra, ar, água e fogo estavam misturados juntos; e deste volume informe surgiu uma massa - como leite sde produz o queijo - e vermes apareceram nela, e eles eram os anjos. A mais santa majestade decretou que estes deveriam ser Deus e os anjos, e entre esses anjos havia também Deus, ele também tendo sido criado ao mesmo tempo daquela massa, e se tornou Senhor...” (Menocchio, século XVI, habitante de um pequeno vilarejo de Friuli, norte da Itália)

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