domingo, 5 de junho de 2011

MIDIOLOGIAS II


Harry Pross (foto acima) estabelece três aspectos ao tratar de mídia em “La Clasificación de los Medios”, sempre associando relações intercomunicacionais com a ideia de aparato porque para ele, os fins comunicativos buscam os meios adequados, embora o que vai implicar neste processo é o acesso aos meios e a tais aparatos. Pross aponta, como exemplo, a televisão que é para ele, “uma rede de distribuição que distribui mensagens a muitos como todos os meios de massa”, mas ele observa que cada meio precisa ser entendido e utilizado de maneira apropriada. O texto de Pross percorre esta problemática dos aparatos e de seus usos, exemplicando a saudação “ei, olá”. Tal saudação, com o agitar de mãos, para Pross é inapropriada na televisão.
Este caso é apresentado para que Pross demonstre uma certa discrepância no discurso linguístico utilizado para a TV e para o rádio, a forma como a expressão se manifesta nestes dois suportes, considerando o fator do “ei!” na comunicação verbal ou não verbal. “Mas, o “ei!” também se dá quando alguém entra em sótão escuro ou no bosque atrás de alcançar um ponto elevado. O que disse “ei!” tem contraído o rosto (fisionomia) e tem agitado a mão (gesto)... Se o tivesse feito no rádio, não seria nenhum problema. Este meio se rege totalmente pelo ouvido e, por conseguinte, pelo discurso linguístico” (1990, p. 161).
Uma expressão apresentada em meios diferentes como o rádio e a TV tende a trazer, podemos supor, uma certa carga de ruído dependendo da mídia em que seja transmitida. O exemplo de Pross sobre o uso adequado do meio para o “ei, olá!” franqueia a entrada à sua perspectiva sobre a comunicação ou o estabelecimento de contatos. Pross denomina de mídias primárias, secundárias e terciárias, modelos que estabelecem sua efetivação a partir do uso ou não do que ele chama de “instrumentos ou aparatos”.
Os meios primários são descritos pelo contato humano sem a necessidade de aparatos técnico, comparável por Pross no âmbito social primário com “os principais meios de entendimento”. A manifestação do “ei!” caracteriza-se, sem o uso de aparato, como expressão da mídia primária. Pross mostra que, apesar das manifestações naturais, a escrita está adequada à mídia primária, na medida em que mesmo sendo um instrumento de registro e de duração, “podem ser percebidas sem aparato” (p.164). Necessário se faz, no entanto, que o emissor e o receptor tenham domínio dos códigos de transmissão, dos símbolos e signos utilizados para a interpretação. Aí, Pross constitui novo grupo que caracteríza esta comunicação sígnica, distinguindo entre “figuras gráficas” e o “grupo de escritas subordinadas à linguagem”, pontos que não serão abordados neste texto.
Citar estes subgrupos leva a gerar um tensionamento com a mídia secundária. Pross entrelaça a linguagem e o uso da escrita e os registros gráficos. Ou seja, a escrita - enquadrada no conceito de mídias primárias - tende a ganhar forma diferente quando seus símbolos e discurso linguístico transformam-se em produtos para um público maior. “Quando se requer um aparato do lado da produção e não do lado da recepção, proponho o termo de meios secundários”, segundo aponta Pross (p.165). Folhetos, cartazes, panfletos, livros e jornais permanecem nesta linhagem. Os jornais com certo destaque, por sua relação com fatores de circulação periódica, a partir dos“ritos de calendário”, e no sentido da transmissão de “bens espirituais” como enuncia Groth, ao também instituir seu conceito de mediação, “para designar os sistemas bilaterais de comunicação” (p.167).
A remissão do simbolismo gráfico transmitido pela mídia secundária, sobretudo os jornais, quanto a aspectos da infografia demonstra uma força que designa visualmente a percepção do leitor na intenção de ofertá-lo este conteúdo simbólico. Como no ponto em que Pross mostra que o uso da ilustração (fazendo uma analogia com a infografia) reforça este processo, “na maior vendagem dos jornais assim configurados, remete novamente à fase preverbal” (p.168). Considerando tal angulação, pode-se construir uma conexão com a mídia terciária de Pross (que pressupõe aparatos do lado do produtor e do lado do receptor), ao observar que a infografia interativa (modelo de transmissão simbólica) necessita de instrumentos para sua concepção e para seu consumo (no caso, equipamentos de informática para manipulação desta ferramenta).
A infografia enquadra-se numa nova forma, numa nova materialidade como exemplificada por Mouillaud. Para a autora, o discurso do jornal está envolvido no dispositivo, o suporte, que não é o seu conteúdo. “O dispostivo não comanda apenas a ordem dos enunciados, mas a postura do leitor” (p.32). Pode-se considerar que o infográfico é um dispostivo subordinado ao jornal, assim como o jornal é um dispositivo geral da informação?
Mouillaud descreve que os dispostivos são mais que suportes (ele denomina “matrizes”) e quer seja o texto (ou o conteúdo), quer seja o suporte (ou a matriz) se relacionam “geneticamente”, cada um desempenhando o seu papel, como fenômenos dinâmicos. E cita um exemplo: “Quando da morte de J. P. Sartre (que lhe havia dado uma cauçao no mento de seu nascimento), Libération se metamorfoseou em Journal de Sartre, e disfarçou em álbum de história em quadrinhos quando morreu Hergé, o pai de Asterix”. (2002, p.34)

A mídia terciária apontada por Pross, em que a infografia interativa se inclui na midiatização digital no processo de produção dos periódicos, aponta também para o fenômeno de velocidade da informação citada por Debray, no modelo pouco a pouco instalado de “ubiquidade” (que remete à nova forma de vida, de Sodré), no desenvolvimento das ferramentas que possibilitam o adentrar a esta ambiência e a palavra que “nunca ciculou tanto e tão rápido ao redor da terra” (2007, p. 2). Apesar de sua abordagem, Debray (foto ao lado) critica a globalização (que chamou de “baboseira conectiva”) e de uma “enbriaguez da conexão generalizada”, que leva a esquecer valores, tradição e desfragmenta a humanidade. Não é porque colocamos o mundo na rede que poderemos viver essa rede como um mundo”, diz. (p.3)

REFERÊNCIAS
MOUILLAUD, Maurice. Da forma ao sentido. In: PORTO, Sérgio D.; MOUILLAUD, Maurice (orgs.). O jornal: da forma ao sentido. Brasília: UNB, 2002, p. 29-35.
DEBRAY, Régis. Transmitir más, comunicar menos. A Parte Rei - Revista de Filosofia, Número 50, Marzo de 2007, p. 1-13. Disponível em: http://serbal.pntic.mec.es/AParteRei
PROSS, Harry. La clasificación de los medios. In: PROSS, Harry; BETH, Hanno. Introdución a la ciencia de la comunicación. Barcelona: Anthropos, 1990, p. 158-178.

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