quarta-feira, 6 de julho de 2011

ARTIGO: INFOGRAFIA INTERATIVA NA AMÉRICA LATINA


Este artigo é uma introdução sobre infografia interativa, para aqueles que querem enveredar neste assunto, e que foi publicado na edição de julho da revista eletrônica Observatório Mídia e Política, da Universidade de Brasília (UnB)



William Robson Cordeiro

Marcília Gomes Mendes

A leitura de três diários – O Estado de S. Paulo, El Nacional e El Universal – evidencia o uso dos infográficos como método eficiente de transmissão da informação, devido ao poder de sua linguagem, a visual.


É cada vez mais presente a utilização do recurso da infografia no jornalismo impresso e on line. É um meio adequado para decodificar com maior velocidade temas que são considerados complexos para a audiência. Os infográficos baseiam-se na representação da notícia a partir de elementos icônicos, ou seja, referentes a imagens, constituindo-se do hibridismo de outros ingredientes da prática do jornalismo, tais como a fotografia, o desenho e o texto. No ambiente da web, são incluídos elementos como animação, vídeo, áudio e recursos de interatividade. Este artigo propõe-se a explanar sobre uma pesquisa em andamento na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), no Programa de Pós-Graduação em Estudos da Mídia, considerando que esta exposição trata-se de aspectos introdutórios e em desenvolvimento.

A evolução da infografia é desenhada em três estágios, denominada de “gerações” específicas. A primeira geração não se caracteriza tão somente por sua incipiência (ou ausência de maturação), mas pela vinculação direta ao suporte impresso. Assim, atributos como a narrativa sequencial e linear e o formato estático estão diretamente associados a esta primeira fase evolutiva da infografia. As demais fases perpassadas pela infografia moderna, culminando com o estágio no suporte web, base deste projeto, são:

  • Segunda fase: envolvida no suporte da internet, baseia-se na multimidialidade dos elementos constitutivos dos infográficos, a saber, “imagens em movimento, gravação sonora, ilustração, fotografia, vídeos e outros recursos interativos” (RODRIGUES, 2009, p. 201). A forma de leitura também se altera em relação aos infográficos estáticos, com variações multilineares, lineares ou não-lineares.
  • Terceira fase: tem como propriedade, segundo Rodrigues (2009), a introdução de base de dados na formatação dos infográficos na plataforma web.

Transição para a web

Com o avanço tecnológico, acesso dos indivíduos aos computadores, banda larga, migração de leitores para a plataforma web, os tradicionais jornais impressos iniciam processo de produção de conteúdo digital, agregando os recursos do tradicional jornalismo feito no papel. A infografia é uma das ferramentas que, progressivamente, recorre aos elementos de multimidialidade e promove o surgimento de “profissionais relacionados com esta forma para que os usuários interatuem com as novas tecnologias” (CAIRO, 2008, p.63). A transição buscava a interatividade do indivíduo com o computador, ao recorrer à informação que necessita através da manipulação do infográfico. Este seria o fundamento da “visualização da informação”, termo que, segundo Cardy, Mackinlay e Shneiderman (1999 apud CAIRO, 2008, p.68), traduz-se “no uso de apresentações visuais e interativas de dados abstratos assistidos por computador para ampliar a cognição”. A infografia passa de um elemento estático para ofertar uma possibilidade de investigação para os leitores/audiência.

É o que Sancho denomina de infografia interativa¹ , conceituando como:

  • Uma aportación informativa, en la mayoria de los casos sucesiva, que se elabora en las publicaciones digitales, basicamente visuales, pero también audiovisuales, realizada mediante unidades elementales icônicas (estáticas o dinâmicas), com el apoyo de diversas unidades tipográficas y/o sonoras, normalmente verbales (2003:556 apud TEIXEIRA, 2007, p.6)

Para Cairo, a figura do jornalista visual torna-se coadjuvante na interpretação dos dados para o leitor, quando da transposição do meio impresso para o meio digital. No entanto, o mesmo jornalista visual figura-se como protagonista ao proporcionar ferramentas para que o próprio leitor desvende os dados por si mesmo.

O novo panorama que se forma no jornalismo digital, a partir da tomada da infografia interativa, caminha lentamente nos jornais tradicionais, embora se note avanços importantes em títulos de maior alcance popular na América Latina. Entre os tais estão: O Estado de São Paulo (www.estadao.com.br), com uma tiragem na versão impressa de 217.414 exemplares (média de 2009, segundo o Instituto Verificador de Circulação - IVC), que figura entre os quatro mais importantes do Brasil e mantém uma seção específica de infografia em seu sítio; El Nacional (www.el-nacional.com), de Caracas, que desenvolve infográficos multimídias na internet e evidencia como o diário mais importante da Venezuela, com tiragem de 150 mil exemplares; e El Universal (www.eluniversal.com.mx), da Cidade do México, fundado em 1º de outubro de 1916 e que, segundo o canal institucional do diário em sua página na internet, “é um dos sítios em espanhol de maior tráfego do mundo. Dados de 2007 apontam que o jornal obteve 3,2 milhões de usuários únicos, 105 milhões de páginas vistas e 1,6 milhão de downloads de vídeo”. Na versão impressa, a tiragem é de 300 mil exemplares diários.

Reprodução de vídeo do infográfico sobre os 25 anos do terremoto no México (El Universal – setembro de 2010)


Tais diários foram escolhidos baseados na questão de colonização diferente entre eles, ou seja, a relação de um jornal de língua portuguesa com dois de língua espanhola, sendo que um deles está fora do ambiente geográfico da América do Sul. Os dois jornais de língua hispânica também são importantes por figurarem no Grupo dos Diários América, entidade que congrega os 11 principais periódicos da América Latina (no Brasil, inclui-se O Globo).

Os dinossauros brasileiros (O Estado de S. Paulo – agosto de 2010)

Eleições parlamentares na Venezuela (El Nacional – setembro de 2010)

As três publicações mantêm identidades comuns quanto às noções de ética e prática jornalísticas latino-americanas, no que concerne à independência do Estado e dos poderes, “tendo o direito de reportar, comentar e criticar as atividades dos agentes do poder, inclusivamente dos agentes institucionais” (SOUSA, 1999). Do mesmo modo, são comuns as rotinas produtivas, o uso das novas tecnologias e de recursos como a infografia interativa.

Mudanças no jornalismo

Sousa e Lima (2005, p.3) mencionam que o jornalismo é histórica e, essencialmente, uma representação “discursiva e selectiva da vida, que, como todos os discursos sobre a realidade, mostra, evidencia e focaliza na mesma medida que oculta”. Assim, a infografia tem sido testemunha da acomodação dos diários impressos aos avanços da tecnologia e acompanhado as mudanças no jornalismo, na medida em que a televisão conquistava uma parcela cada vez maior da audiência, com impacto direto nos jornais impressos. A ênfase do uso dos infográficos passou a ser maior. Como exemplo no Ocidente, o USA Today dinamizou a transmissão de dados informativos com a utilização massiva dos infográficos na década de 80. Cairo (2008, p.52) atesta que o periódico inclinava-se ao perfil do leitor ocupado, com pequena disposição de ler jornais e que “estava muito acostumados a obter suas notícias pela televisão”.

O paradigma de diário pós-televisivo, apontado por Cairo (2008) e desenvolvido pelo USA Today, apoiava-se na informação visual com propósito de apreender o leitor. Pablos (1999 apud SCHMITT, 2006, p.38) explica que o cenário marcava-se por “perda continuada de leitores, a incorporação nula de jovens e a presença de uma TV cada dia mais universal, em uma sociedade cada vez mais global”. Hoje, nota-se a presença do diário na plataforma web, recorrendo a infográficos, em processo social que assemelha-se ao enfrentamento com a TV.

Ao observar este caminho, entende-se que o surgimento da infografia jornalística, por si só, é sintomático no que se refere ao funcionamento dos diários impressos e, agora na internet, e torna-se mais comum também no cotidiano da vida social, o que instiga a investigação acerca deste tema. Os infográficos apresentam-se como método eficiente de transmissão da informação, devido ao poder de sua linguagem, a visual.

Outro aspecto que inclina ao desenvolvimento desta pesquisa em andamento baseia-se na concepção de que os estudos sobre infografia (estática e interativa) no mundo são recentes e no Brasil não há ainda livros específicos acerca deste tema considerado complexo no campo da comunicação. Sobretudo, no universo latino-americano.

Os três diários (O Estado de S. Paulo, El Nacional e El Universal) estão entre os principais em suas regiões, são detentores de prestígio na América Latina. Foram escolhidos por utilizarem a ferramenta infográfica na transmissão de notícias na internet, o que leva à hipótese de um perfil de leitor muito semelhante ou com identidades comuns na América do Sul e América Central.

Referências

CAIRO, Alberto. Infografia 2.0 - visualización interactiva de información en prensa. Madrid: Alamut. 2008

PRIMO, Alex e CASSOL, Márcio. Explorando o conceito de interatividade: definições e taxonomias.1999. Disponível em: http://usr.psico.ufrgs.br/. Acesso em: 16 de outubro de 2010.
RODRIGUES, Adriana Alves. Infografia na revista Veja: a imagem gráfica como indução do leitor. Campina Grande. 2005. Monografia. Universidade Estadual da Paraíba.
SCHMITT, Valdenise. A Infografia Jornalística na Ciência e Tecnologia: um experimento com estudantes de jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2006. Dissertação.Universidade Federal de Santa Catarina
SOUSA, Jorge Pedro e LIMA, Maria Érica de Oliveira. O massacre dos inocentes. A reacção das newsmagazines portuguesas e brasileiras ao atentado contra a escola de Beslan, in SOUSA, Jorge Pedro (Org.) (2006). Actas do II Congresso Luso-Brasileiro de Estudos Jornalísticos/IV Congresso Luso-Galego de Estudos Jornalísticos. Jornalismo, Ciências e Saúde. Porto: UFP, 2005.
TEIXEIRA, Tattiana. A presença da infografia no jornalismo brasileiro. proposta de tipologia e classificação como gênero jornalístico a partir de um estudo de caso. In: Revista Fronteiras, IX(2): 111-120, mai/ago 2007.
__________ . Que beleza! O infográfico e o jornalismo informativo. In: FELIPPI, Ãngela; SOSTER, Demétrio de Azeredo; PICCININ, Fabiana (org.). Edição de Imagens em Jornalismo. Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2008. pp. 162-183



William Robson Cordeiro é mestrando do Programa de Pós-graduação em Estudos da Mídia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), na Área de Concentração Estudos da Mídia - Linha de Pesquisa Práticas Sociais. Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) E-mail: williamrobson@folha.com.br


Marcília Gomes Mendes é professora-doutora da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).



¹André Lemos (1997 apud PRIMO E CASSOL, 1999, p. 3) compreende por interatividade como uma nova forma de interação técnica, de característica eletrônico-digital, uma ação dialógica entre homem e técnica. “Por outro lado, pensa que o que se vê hoje com as tecnologias digitais não é a criação da interatividade propriamente dita, mas sim os processos baseados em manipulações de informações binárias”.

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